Sobre o corpo

Vamos falar de corpo? Sei que é um papo que vocês gostam muito. Nessa quarentena, a maior dificuldade foi manter a gentileza com meu corpo, sabe? Muito se falou e ainda se fala de amor próprio, mas ainda é uma jornada difícil. Nós, bailarinas, independente de sermos adultas, profissionais ou em formação, estamos sempre nos julgando, muitas vezes sem nem ter consciência que estamos nos colocando para baixo.

Ter consciência de que somos vítimas de uma padronização impossível e de como nos cobramos e maltratamos é o primeiro passo. O segundo é escolher mudar. Dali pra frente é devagarinho mesmo. A gente vai encontrando uma qualidade aqui, outra ali… Passa a se gostar mais, a ter orgulho de seguir dançando. Até que tiramos uma foto e, mesmo desejando ter uns quilos a menos, a gente de vê bonita e se abraça. Como aconteceu com essa. ♥️

Ao me preparar pra tirar, pensei: “não vai ficar boa”. Mas ficou, sim! Eu me gostei. E fico imensamente grata por me aceitar dessa forma. Há alguns meses eu achava que precisava perder 10kg! Hoje eu simplesmente pensei que ficaria feliz perdendo só uns 3 (pra pelo menos caber nas roupas do antigo normal, rs). Baby steps.

A reeducação do olhar, o amor próprio e o entendimento de que a beleza é pessoal e relativa são trabalhos árduos, principalmente para quem cresceu nas décadas de 90 e 00 foi bombardeada por padrões de beleza europeus (eu!), ou quem a vida toda passou fome tentando ter um corpo russo com um quadril brasileiro.

Eu ainda não me sinto totalmente feliz com o que vejo no espelho. E nem quero me sentir mal por assumir que, sim, gostaria de perder uns quilos. Mas já consigo encontrar tantas qualidades quanto conseguia listar defeitos, não só no corpo mas na minha técnica também! Inclusive, não trocaria a técnica que tenho hoje pelo meu corpo de 21 anos sem limpeza e encaixe.

Já consigo encontrar tantas qualidades quanto conseguia listar defeitos, não só no corpo mas na minha técnica também! Inclusive, não trocaria a técnica que tenho hoje pelo meu corpo de 21 anos sem limpeza e encaixe.

E me sinto bem e segura ao ponto de fazer uma aula só de collant como manda o uniforme, de pisar num palco com o corpo que eu tenho, de vestir um tutu bem princesa (mesmo ficando arrebitado no bumbum) e tirar fotos como essa – e ainda publicar aqui pra vocês. Esse é o meu corpo. Bailarina adulta, 32 anos, 11 deles no clássico.